segunda-feira, 1 de julho de 2019

O primeiro emprego de Ney Matogrosso foi de recreador infantil, o que gerou a terapia ocupacional







 O primeiro emprego de Ney Matogrosso foi de recreador infantil, o que gerou a terapia ocupacional

Sobre esse ponte do trabalho de recreador infantil para a terapia ocupacional, a partir de Ney Matogrosso, li numa entrevista no Correio Brasiliense, dada por um médico, cujo nome não lembro,
também não tenho o link

Com recorde de público e Ney Matogrosso à frente, Secos e Molhados fez show no Nilson Nelson em março de 1974

Fiz uma busca e não localizei a entrevista, na época em que a mesma fora publicada nem havia web, acho que não, faz tempo

Achei outros artigos mais recentes:





postado em 31/07/2010 07:00 / atualizado em 31/07/2010 
O recorde de público no local, porém, pertence ao espetáculo do mitológico Secos e Molhados, grupo formado por Ney Matogrosso, João Ricardo e Gerson Conrad. Em 22 de março de 1974, o trio de características andrógenas e atitude revolucionária reuniu no então Ginásio de Esportes, 50 mil pessoas — 25 mil em cada uma das sessões — e afrontou de forma debochada a ditadura militar. Com repertório de canções que transformaram-se em clássicos, figurino e maquiagem extravagantes, performance cênica provocante — marcada pelo rebolado —, o Secos e Molhados trouxe novas cores, novos timbres e alegria ao cenário da música brasileira, que vivia um impasse diante da atmosfera cinzenta que se espalhava pelo país nos anos de chumbo. Figura emblemática do Secos e Molhados, Ney Matogrosso foi o único entre os integrantes do grupo a seguir, de forma vitoriosa, carreira solo. João Ricardo e Gerson Conrad seguem apenas pequenos projetos musicais. Sempre ousado e inovador, o cantor é hoje um ícone da MPB, como intérprete de diferentes estilos. Passadas quase quatro décadas, ele ainda mantém vivos na memória detalhes daquele show, inesquecível para os brasilienses com idade acima dos 50 anos. “Aquele show no Ginásio de Esportes foi tenso. Me deu muito prazer em fazer, mas subi ao palco sob pressão. Eu que havia descoberto minha vocação artística em Brasília, onde morei por quase toda a década de 1960, quando voltei à cidade, quatro anos depois de pedir demissão da Fundação Hospitalar do DF (ele trabalhava na unidade de pediatria do Hospital de Base). Vivíamos sob a égide da ditadura militar e o clima na capital era pesado”, recorda-se.

O recorde de público no local, porém, pertence ao espetáculo do mitológico Secos e Molhados, grupo formado por Ney Matogrosso, João Ricardo e Gerson Conrad. Em 22 de março de 1974, o trio de características andrógenas e atitude revolucionária reuniu no então Ginásio de Esportes, 50 mil pessoas — 25 mil em cada uma das sessões — e afrontou de forma debochada a ditadura militar. Com repertório de canções que transformaram-se em clássicos, figurino e maquiagem extravagantes, performance cênica provocante — marcada pelo rebolado —, o Secos e Molhados trouxe novas cores, novos timbres e alegria ao cenário da música brasileira, que vivia um impasse diante da atmosfera cinzenta que se espalhava pelo país nos anos de chumbo. Figura emblemática do Secos e Molhados, Ney Matogrosso foi o único entre os integrantes do grupo a seguir, de forma vitoriosa, carreira solo. João Ricardo e Gerson Conrad seguem apenas pequenos projetos musicais. Sempre ousado e inovador, o cantor é hoje um ícone da MPB, como intérprete de diferentes estilos. Passadas quase quatro décadas, ele ainda mantém vivos na memória detalhes daquele show, inesquecível para os brasilienses com idade acima dos 50 anos. “Aquele show no Ginásio de Esportes foi tenso. Me deu muito prazer em fazer, mas subi ao palco sob pressão. Eu que havia descoberto minha vocação artística em Brasília, onde morei por quase toda a década de 1960, quando voltei à cidade, quatro anos depois de pedir demissão da Fundação Hospitalar do DF (ele trabalhava na unidade de pediatria do Hospital de Base). Vivíamos sob a égide da ditadura militar e o clima na capital era pesado”, recorda-se.

Censura Motivos para Ney ter esse tipo de lembrança não faltaram. “Quando chegamos aí fui procurado por uma pessoa (ele não quis revelar o nome), meu amigo quando morei na cidade, que, pelo visto, estava alinhado ao regime. Sem meias palavras, disse que, antes da apresentação para o público, teríamos que fazer o show para a censura. A contragosto, nos submetemos à determinação”, revela. “Nos surpreendemos porque os censores levaram os familiares para assistir ao show, mostrado integralmente, com figurino e tudo. Só que eu andava pelo palco, sem mostrar nenhuma das coreografias. Foi a minha maneira de protestar”. Ney fala de outro aborrecimento que ele e seus companheiros tiveram. “Assim que chegamos, soubemos que para assistir ao show as pessoas foram obrigadas a adquirir carnê de uma empresa da área financeira — caderneta de popupança Inca. Essa empresa deve ter tido um lucro absurdo, pois o ginásio estava superlotado nas duas sessões, e certamente todo mundo que estava ali tinha o tal carnê”, comenta. “Quando subimos ao palco e vimos aquela multidão à nossa frente, a coisa mudou, pois fomos tomados por um prazer enorme. Esse sentimento em mim era ainda maior, pois comecei a carreira na capital, cantando no Madrigal de Brasília, no Auditório Dois Candangos da UnB, no auditório da Rádio Nacional e numa casa noturna (a Cave de Roi, que havia na 413 Sul), mas pouca gente me conhecia. O show foi ótimo e repercutiu muito. Ficamos felizes, pois tudo aquilo aconteceu num momento de tristeza na vida do país, em plena sede do poder.” Depoimentos » “Eu e vários colegas do Hospital Distrital (atual Hospital de Base) tivemos uma grande surpresa quando ao assistirmos ao show do Secos e Molhados, vimos o Ney (Matogrosso) tão solto e exuberante em cena. Logo ele, que era pessoa reservada, quando trabalhava na recreação junto às crianças na área da pediatria do hospital. Ficamos muito felizes ao vê-lo como estrela do grupo, status que mantém até hoje”Ubitatan Peres, médico » “Á época eu tinha 15 anos e fui com um grupo de amigos da 711 Sul ao Ginásio de Esportes para assistir ao show do Secos e Molhados, que tinha duas músicas estouradas nas emissoras de rádio, O vira e Sangue latino. Para nós, foi um choque, a performance do grupo, em especial a do Ney Matogrosso, algo extremamente revolucionário naquele tempo” Carlos Sena Jr., radialista » “O Ney era colega do meu filho Leonardo, no Elefante Branco, e várias vezes o acompanhei ao piano, aqui em casa. Ele era muito acanhado. Por isso, tomei um susto quando o vi no palco de tanguinha, com dorso nu, cheio de adereços, rebolando e cheio de vida. Era uma coisa bem original, que encantou a todos que estavam no ginásio”Neusa França, pianista » “Na noite daquele show histórico em Brasília, as surpresas começaram cedo. Como sou amigo de Ney desde a adolescência, fui ao encontro dele no hotel. Da janela víamos centenas de pessoas passando, vindas da rodoviária, indo para o Ginásio de Esportes. Ao chegarmos ao local, observamos aquela multidão que superlotou o local. Eu, assim como outros amigos de Brasília, que conhecíamos um Ney absolutamente tímido, ficamos espantados ao vê-lo no palco com aquela performance exuberante. Nos enchemos de alegria com o sucesso dele e depois comemoramos no hotel, porque ele nunca foi de badalação em restaurante” Márcio Oberlaender, artista plástico

https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/diversao-e-arte/2010/07/31/interna_diversao_arte,205325/com-recorde-de-publico-e-ney-matogrosso-a-frente-secos-e-molhados-fez-show-no-nilson-nelson-em-marco-de-1974.shtml

Em livro de memórias, Ney Matogrosso reflete sobre a própria trajetória

Secos & molhados: grupo surgiu com performances provocadoras de Ney Matogrosso(foto: Ary Brandi/Divulgação)

Na obra, cantor fala sobre música, sexualidade, drogas e o Brasil de hoje

Nahima Maciel postado em 16/12/2018

Muitas das histórias contadas em Vira lata de raça não são novidades. Ney Matogrosso falou sobre elas em entrevistas ao longo dos quase 50 anos de carreira. No entanto, há um sabor diferente na leitura quando o texto está em primeira pessoa o que, em certos momentos, leva o artista a aprofundar e detalhar algumas passagens da própria vida.

Vira lata de raça, título emprestado de uma música de Rita e Beto Lee, não é uma autobiografia, mas um livro de memórias. Nasceu de uma sugestão do amigo e poeta Ramón Nunes Mello. Inicialmente, a ideia era publicar uma compilação de matérias, críticas e entrevistas publicadas ao longo dos anos. Das conversas entre os dois, ficou evidente que a voz narrativa de Ney tinha uma força, uma potência que está no livro.

Ficou decidido, então, que seria um livro de memórias. “Ele falou que tinha uma ideia já de livro, que ia fazer alguma coisa para além do que já tinha. Ele queria entender se as declarações dele ao longo do tempo eram coerentes, se tinham um sentido de concatenação, seja nas ações, ou no próprio discurso”, conta Nunes Mello, responsável pela organização do livro. Fotos de Ary Brandi, algumas inéditas, dos tempos do Secos & molhados, aparecem ao lado de outras mais conhecidas e fruto de pesquisa iconográfica detalhada. A biografia mesmo, prevista para 2019, está em fase de produção e será assinada por Júlio Maria, biógrafo de Elis Regina (Nada será como antes).

A relação com o pai e o olhar para o menino educado sob as rédeas de um militar estão entre as primeiras lembranças de Ney, filho de um oficial da aeronáutica que não queria prole artista. Foi quando saiu de casa, aos 17 anos, e se alistou na Aeronáutica, gesto simbólico, que o cantor começou a se sentir livre para ser ele mesmo. Sobre os anos no quartel, ele se lembra, especialmente, de perceber a possibilidade de carinho nas relações entre homens.



(foto: Ary Brandi/Divulgação) 

A opressão em casa fazia Ney reprimir os próprios sentimentos. No Rio de Janeiro, começou a perceber que a relação entre dois homens era uma coisa viável. “Eu conto a história com meu pai, porque acho importante, sei que muita gente passa pela mesma coisa. E tou querendo dizer para as pessoas que é possível sobreviver com decência a esses infortúnios da adolescência”, explica, em entrevista ao Correio. Momentos da carreira, a estreia ao lado do Secos & Molhados, os tempos de artesanato e da vida hippie, a descoberta em relação à beleza da própria voz e a passagem por Brasília estão no livro.

Na capital, para onde veio depois de sair da Aeronáutica, Ney trabalhou, primeiro, no laboratório de anatomia patológica do Hospital de Base, antes de se dedicar às crianças da ala pediátrica. Ali, o contato com a morte provocou uma transformação na maneira de encarar a finitude humana. Foi um momento importante, que veio acompanhado da experiência com o coral regido pelo maestro Levino de Alcântara, responsável por mostrar ao cantor o quão única era sua voz.

Também em Brasília, Ney viveu sua primeira relação homossexual, que acabou porque o namorado alimentou um sentimento de posse que o cantor, aos 21 anos, não gostou. “Ao chegar em Brasília também passei a ter consciência da minha sexualidade, escolher com quem gostaria de dividi-la, sem a culpa cristã. Eu era muito travado, sexualmente falando, só fui me liberar para o sexo a partir dos 30 anos – dos 33 aos 38 anos eu realmente exercitei minha liberdade sexual, passei a me comportar como um bicho no cio, cheio de instinto e tesão”, escreve.

A sexualidade, aliás, é tratada em vários capítulos. A paixão por Cazuza, o relacionamento com Marco de Maria, que morria de Aids em casa enquanto Ney subia ao palco para a estreia de um show, e as perdas em decorrência da doença, nos anos 1980, são momentos marcantes. Como já havia falado em entrevistas, o cantor confessa achar um milagre estar vivo. “Tive contato sim com o vírus, e não me contaminei. Por um milagre, não me infectei”, escreve.

Ney também critica a maneira como a imprensa tratou sua homossexualidade. Ele nunca quis assumir bandeiras e sempre fez questão de reiterar que, antes de qualquer etiqueta, era um ser humano. Gostava também de mulheres, embora no livro revele que se afastou das relações heterossexuais, porque acabavam virando romance. Nunca quis assumir bandeiras mas, hoje, ele entende a necessidade dos rótulos LGBT para as lutas de gênero. “Dentro do movimento, agora, existem esses rótulos, as pessoas fazem questão disso. Agora, meu pensamento é um pensamento anterior a esse. Não faço questão de rótulos, acho que rótulos são limitadores. Entendo também que as pessoas precisam se juntar e se organizar dentro desses rótulos para ter força, mas eu nunca tive esse impulso para isso”, diz.

A relação com a natureza é outro ponto presente do início ao fim do livro. Desde muito pequeno, o cantor se alimenta do contato com a terra, as plantas e os bichos. Os figurinos de chifres, penas e peles nas apresentações do Secos & molhados refletem essa ligação e as experiências com as drogas, especialmente a ayauhasca do Santo Daime, foram tentativas de se conectar com ele mesmo e com a natureza. Nunca, ele insiste, usou drogas para se desconectar da realidade.

A solidão e a idade também são tratadas no livro com muita sinceridade. Aos 77 anos, Ney se surpreende por não sentir o peso da idade. A libido, ele confessa, continua ótima, assim como o corpo e o espírito. “Não me sinto nem um pouco velho, faço quase duas horas de show, com fôlego e flexibilidade , dançando e cantando”, escreve. Manter a mente aberta ao novo, não ser saudosista e não guardar mágoas, ensina, ajuda a preservar o vigor.

Hoje, Ney não quer um relacionamento fixo. E também não se classifica como solitário, embora tenha achado que o documentário de Joel Pizzini, Olho nu, trace dele um perfil de homem só. “Não me sinto solitário. Pelo contrário. Isso não é um sofrimento, não é um peso na minha vida. Eu preciso disso, ficar muito sozinho, porque minha vida me coloca muito exposto e tenho necessidade de ficar só. Sem sofrer”, garante. “Olha, eu tenho um círculo de amigos, não sou uma pessoa que se fecha em casa sozinha, mas respeito a individualidade.”

Serviço 

Vira lata deraça – Memórias
De Ney Matogrosso. Organização: Ramon Nunes Mello. Tordesilhas, 288 páginas. R$ 44,90.

Quatro perguntas/Ney Matogrosso




(foto: Giovanna Luna/Divulgação)
(foto: Giovanna Luna/Divulgação)

Você aprofunda, no livro, momentos difíceis, como a relação com seu pai e a morte de Cazuza e Marco de Maria. Foi sofrido reviver isso?

Não. Não foi sofrimento nenhum porque aquilo é passado, isso não me toca mais. Minha teoria é que, se você vai vivendo sua vida com intensidade, com verdade, as coisas vão passando e elas vão ficando. E você guarda as suas recordações, mas as coisas ruins passam também. Não teve nenhuma dificuldade, nenhum momento difícil, porque isso não me toca mais, tá tudo pra trás. Eu tou em outro momento da minha vida, em outro ponto da minha vida. Mesmo a história com meu pai.


Você fala, em vários momentos, que o Brasil ficou careta para aquela transgressão dos anos 1970. O que aconteceu conosco? Como está sua expectativa para o Brasil?

Olha, nós demos o passo que nunca imaginei que daríamos. Entendo que demos o passo, porque o caminho foi pavimentado pelos que passaram antes. Para essa chegada onde chegamos, essa estrada foi pavimentada. Foi asfaltada e posta para esse pensamento chegar ao poder. Então, tudo é consequente. A gente não pode achar que o povo brasileiro enlouqueceu. Ele está desiludido. Agora, espero que não tenhamos outra desilusão pela frente, porque se Bolsonaro foi eleito democraticamente, não podemos contestar isso. Espero que a gente também não tenha arrependimentos. Torço para que tudo dê certo, para que ele realmente tenha bom senso. Toda aquela coisa de antes, aquelas coisas muito extremistas, isso tudo já não é mais porque ele se depara com tanta coisa para resolver que não pode se prender à vida particular de ninguém. Ninguém tem  de se meter na vida particular de ninguém, nem Estado, nem religião, nem ninguém. A vida de cada um é a vida de cada um. Espero que ele realmente cuide do Brasil, que faça um bom trabalho e que deixe as pessoas viverem em paz.


Sua política, você escreve, é no palco. Olho no olho, com o público. Como é isso?

Quando me vi sozinho, naquele momento em que gravei meu primeiro disco solo, achava que a esquerda estaria me compreendendo. Que a esquerda me apoiaria em alguma instância. Não. Fui tão rejeitado pela esquerda quanto pela direita. Então, atinei para o seguinte: então, é cada um por si, vou cuidar da minha vida. Não preciso de apoio nem de esquerda nem de direita, porque sou um ser humano independente e vou tocar minha vida. E toquei minha vida. Para falar a verdade, tenho horror à política partidária.


Como chegou a essa conclusão?


A partir de muitas coisas que foram acontecendo, me mostrando que eu era sozinho. Quando saí do Secos & molhados, eu não era do grupo dos baianos, do grupo dos cearenses, dos mineiros. Era eu sozinho. Porque é mais fácil quando você vem com uma leva. Eu vim sozinho e vi que era sozinho, que eu estava sozinho e não podia me submeter a nada nem tentar me esconder. Pelo contrário. Sempre fui muito claro, sempre que perguntado, eu declarei a verdade. Não saio por aí jogando minha verdade na cara das pessoas, mas se perguntado, não me recuso a colocar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário